"São 3 horas da manhã, você me chama pra falar coisas que só a gente entende. E com seu papo poesia me transcende..."

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Enfim, sós!

Dia desses fui almoçar em um horário desses que ninguém almoça. Assim, sem um lugar definido, companhia escolhida e muito menos com um desejo gastronômico específico a ser saciado. Apenas com um livro na bolsa.

E foi dessa maneira que parei em um pub bem vazio. Aliás, o que não estava vazio naquela altura do campeonato? Tudo já estava na ressaca do “momento meio-dia”, sabe? E eu indo almoçar! Pois bem...

“Boa tarde! Mesa para uma pessoa só?”. Foi o que a mulher falou na entrada. Só que falou tão baixinho que eu a fiz repetir essa frase umas cinco vezes até entender a pergunta. Baixinho mesmo! Quase sussurrando. Se bobear, estava com vergonha de dizer: “É isso mesmo? Sozinha? Credo!”. Afinal, o que não faltam por aí são pessoas com problemas sérios em praticar esse ritual no [alone mode]. E que acham a coisa mais estranha alguém conseguir fazer isso. Vai ver ela era uma delas. “Ai, mais uma solitária nessa vida...”, suspiro. Esse seria o pensamento daquela moça de pouca voz. Ah sim, seguido de um suspiro. Esses discursos sempre terminam assim.

“Isso! É pra uma pessoa só!”. Ah, e o meu livro também, conta? Pensei com um tom de revolta, mas achei melhor não entrar nessa questão. Preferi segui-la bar adentro, conforme havia me pedido. Enfim várias mesas vazias e ela passando batido por todas! Detalhe: pub vazio e mesas, de no mínimo, quatro lugares. Por que ela não parava? Eu só pensava: “Ela está querendo me esconder???” . Pensei na hora e ainda acho que foi isso! Sério, se eu não tivesse dito “Pare!”, acho que ela tinha me carregado pra comer na cozinha! Isso que dá acompanhar uma mulher que fala pra dentro.

Ok, fim da agonia da escolha do lugar, sentei e até que fui atendida rapidamente. Fiquei lá: eu, o livro, e o queijo que veio em seguida em cima da batata. Estava, realmente, tudo muito bom. A única “preocupação” era dividir a atenção entre o livro e a comida. Bobagem pura... Coisa pequena diante de um momento só meu! Já estava feliz da vida, quieta ali e esquecida do mundo.
E não era só eu que estava assim! Em paralelo um casal vivia o momento deles, na mesa do lado. Um de frente para o outro sem dizer nada. Sorrisos e olhares, mais risos e olhares... Típico início de romance. Olhares... Até que um garçom começa: “Mais um Alexander?”. “ Não, obrigado, senão vou ser carregado pra casa”, corta o homem brincando. Coitado, mal sabia ele que o futuro era negro após esse comentário. O garçom disparou a falar sobre beber, dirigir, táxi, leis, o que é permitido, o que não é permitido... E isso durou um bom tempo! O casal mudo tentando sustentar os olhares e o garçom falante.

Resultado: os dois decidiram ir embora, me deixando sozinha com o tal do garçom participativo. Desespero. “Agora o carente vem atrás de mim!”. Tratei então de olhar fixamente para o livro, quase escondendo meu rosto entre as páginas, para não dar nem assunto. E por um segundo até achei que ele ia à minha mesa. Olhou, pensou no que poderia falar (tenho certeza), mas acabou desistindo. Vi o pé dando meia volta e fique tranqüila. Ganhei! E pude acabar o capítulo em paz. Eu, o livro e o queijo.

Vou te dizer... Povo “empata f...” esse do pub... Agora, só volto lá acompanhada!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

[Sob Controle]

Pshhiiiu... Não faça muito barulho quando estiver lendo esse texto. As palavras estão sob efeito de hipnose e não devem ser acordadas. Depois de um bom tempo consegui colocá-las, praticamente, passíveis ao meu comando. Por favor, não atrapalhe.

Tá achando que eu estou brincando?? Nada... Elas andam fora do meu controle! Não reparou que andei sumida desse blog? Então... Elas tomaram vida própria! Quer dizer, vida sempre tiveram. E como! A diferença é que agora elas saem quando bem entendem e pronto acabou. Sendo assim, resolveram largar crônicas, papel ou computador. O foco delas passou a ser outro: as pessoas. Dessas que andam, se movimentam e também falam! Aff... Esse mundo está muito moderno mesmo. Onde já se viu? Palavras que escolhem seus momentos... Só me faltava essa!

E essa mudança toda foi assim, do dia para a noite. Sem aviso prévio ou recado deixado em algum post-it. Quando eu dei conta, lá estavam elas... fora da minha boca! E eu com cara de tacho! Sem nem poder recolhê-las! Porque tem isso, né... Palavras se espaaaaaaaaaalham. Como moedinhas que caem rolando pelo chão, sumindo em tudo quanto é buraco. Elas vão. É a única certeza. Agora, até aonde? Nunca se sabe... Vão rolando, rolando... Fazem e acontecem pelas ruas! E às vezes se escondem em cantinhos tão estranhos e inusitados que acabam se perdendo no escuro. Ou no silêncio. Danadas essas palavras...

E nem adiante eu brigar muito. Palavras não escutam. Apenas saem. Eu é que me vire com as conseqüências depois! Já cheguei até ao ponto de colocar meu coração para ter um papo cabeça com o raciocínio. Simples esperança deles controlarem as fugitivas. Doce ilusão... Elas andam tão rebeldes e determinadas que não duvido nada de estarem armando, inclusive, um motim. Meu eu amordaçado sendo jogado ao mar. Imensidão.

Agora, o pior é que eu ainda consigo entender... Elas passaram a ter desejo de realidade. Palavras em busca de liberdade e autonomia de ser, ao invés do significado. Nada de posses ou prisões... Elas só querem abraçar o mundo, independente de suas linhas tortas! Passear, sem ter que dar satisfação ou se sentirem pesadas com responsabilidades. Brincar de subir em vírgulas, descer em espaços e dar volta em interrogações sem causar furos nas páginas. Sem repressões. Jovens...

Ah, minhas palavras... Tão novas e ansiosas... Fazem barulho apenas pela vontade de serem leves. Palavras que pretendem ser as próprias palavras. Só isso.

Ih! Caramba! Acor
da
r
a

m
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..