Ela se faz em um sorriso. Era tudo o que ele queria naquele momento...
- Estava com saudades desse sorriso...
- Não tenho culpa se você some...
- E se você é cara-de-pau, né? Eu não sumi, você é que voou pra longe.
- É, pode ser... Mas acho essa distância foi necessária pra mim.
- Às vezes eu me via lembrando de como a sua gargalhada me fazia bem. Em alguns momentos até sem razão de ser, mas exata para a minha tristeza. Sabe, você me passava um pouco dessa alegria e eu podia jurar que do seu lado tudo iria dar certo.
- Não dá pra levar a vida tão a sério... A leveza deixa as coisas melhores.
- Mas A GENTE você levou a sério.
- VOCÊ era importante pra mim.
- Era?
E um breve sorriso, nada parecido com o primeiro se fez no rosto dela... E, mesmo sem palavras, ele já sabia o que aquilo significava. Preferiu então mudar de assunto...
- Você tá diferente...
- E você não mudou nada...
- Nem um pouco?
- Talvez a barba... Esconde como você ainda é menino, apesar do tempo.
- Eu tento, eu tento...
- O pior é que tem gente que acredita, diz ela brincando.
- Aos montes! Você tem que ver!
E os dois riem, juntos, daquela verdade em forma de piada. Até o silêncio chegar...
Na verdade, ele estava gostando daquela ausência de palavras. E quieto, se perde olhando as mãos dela. Como estavam bonitas... Cheia dos anéis, com os dedos se mexendo, insistentemente, como se um fosse estalar o outro. Essa mania ele conhecia bem... Pensou em repreendê-la como sempre fez, mas depois desistiu quando ela mexeu no cabelo. Ela estava, especialmente, linda ali no carro... "Como eu demorei tanto a perceber isso...". Tantos abraços, tantas histórias, tantos beijos em seu pensamento. É, realmente, ela fazia bem à sua alma... Já dava até para se sentir mais leve... Acabou não resistindo em perguntar:
- E hoje? Você fica?
Seus olhos têm esperança de que ela diga que sim. Já seus sonhos esperam que ela responda: "Com você? Fico aqui para o resto da vida...".
Por outro lado, ela faz um olhar distante, suspira, morde os lábios... Não está em busca das melhores palavras. Não com ele. Nunca precisou disso. Ele a entendia mesmo quando não dizia nada. Ela só estava em busca da sua verdadeira vontade, que ela nem sabia por onde andava àquela hora da madrugada...
E a saudade veio forte, a envolveu naqueles instantes de espera. Abraçou apertaaaado seu coração, como se não fosse largar nunca... E só conseguiu ter como resposta:
- Vou ficar até o sol nascer...
No fundo, ele já sabia... Mas ainda resiste, insiste e se nega a aceitar:
- E amanhã?
Ela ri e sorrindo, diferente daquele primeiro sorriso, coloca as mãos em cima das mãos dele, que estavam quentes, como sempre, e só consegue dizer:
- Amanhã já é um novo dia...