"São 3 horas da manhã, você me chama pra falar coisas que só a gente entende. E com seu papo poesia me transcende..."

terça-feira, 5 de agosto de 2008

[Sob Controle]

Pshhiiiu... Não faça muito barulho quando estiver lendo esse texto. As palavras estão sob efeito de hipnose e não devem ser acordadas. Depois de um bom tempo consegui colocá-las, praticamente, passíveis ao meu comando. Por favor, não atrapalhe.

Tá achando que eu estou brincando?? Nada... Elas andam fora do meu controle! Não reparou que andei sumida desse blog? Então... Elas tomaram vida própria! Quer dizer, vida sempre tiveram. E como! A diferença é que agora elas saem quando bem entendem e pronto acabou. Sendo assim, resolveram largar crônicas, papel ou computador. O foco delas passou a ser outro: as pessoas. Dessas que andam, se movimentam e também falam! Aff... Esse mundo está muito moderno mesmo. Onde já se viu? Palavras que escolhem seus momentos... Só me faltava essa!

E essa mudança toda foi assim, do dia para a noite. Sem aviso prévio ou recado deixado em algum post-it. Quando eu dei conta, lá estavam elas... fora da minha boca! E eu com cara de tacho! Sem nem poder recolhê-las! Porque tem isso, né... Palavras se espaaaaaaaaaalham. Como moedinhas que caem rolando pelo chão, sumindo em tudo quanto é buraco. Elas vão. É a única certeza. Agora, até aonde? Nunca se sabe... Vão rolando, rolando... Fazem e acontecem pelas ruas! E às vezes se escondem em cantinhos tão estranhos e inusitados que acabam se perdendo no escuro. Ou no silêncio. Danadas essas palavras...

E nem adiante eu brigar muito. Palavras não escutam. Apenas saem. Eu é que me vire com as conseqüências depois! Já cheguei até ao ponto de colocar meu coração para ter um papo cabeça com o raciocínio. Simples esperança deles controlarem as fugitivas. Doce ilusão... Elas andam tão rebeldes e determinadas que não duvido nada de estarem armando, inclusive, um motim. Meu eu amordaçado sendo jogado ao mar. Imensidão.

Agora, o pior é que eu ainda consigo entender... Elas passaram a ter desejo de realidade. Palavras em busca de liberdade e autonomia de ser, ao invés do significado. Nada de posses ou prisões... Elas só querem abraçar o mundo, independente de suas linhas tortas! Passear, sem ter que dar satisfação ou se sentirem pesadas com responsabilidades. Brincar de subir em vírgulas, descer em espaços e dar volta em interrogações sem causar furos nas páginas. Sem repressões. Jovens...

Ah, minhas palavras... Tão novas e ansiosas... Fazem barulho apenas pela vontade de serem leves. Palavras que pretendem ser as próprias palavras. Só isso.

Ih! Caramba! Acor
da
r
a

m
.
..

3 comentários:

Thiago Cavalcante disse...

"Tenho medo de escrever.É tão perigoso.Quem tentou, sabe.Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona,está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar.Para escrever tenho que me colocar no vazio.Nesse vazio terrivelmente perigoso:dele arranco sangue.Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavra que digo escondem outras - quais? talvez as diga.Escrever é uma pedra lançada no poço fundo."
(Clarice Lispector)


....


Tenho algumas palavras que continuam dormindo. Espero poder acordá-las em breve, não com medo, mas com a coragem que elas precisam ser pronunciadas.

...
´
Como é bom ler um tetxo teu.
Estava com saudades do seu (re)canto.

Um beijão.

Luísa disse...

reclamações metalingüísticas, minha cara? rs
vide meu perfil. e uns posts antigos.

Palavras não têm controle. Queimam, ardem, apagam, somem, volta calmas, seguras, mudam-se, mexem-se...

não têm regras. e se momentâneamente podemos brincar com elas, como se fossem outra coisa controlável (que não palavras, é claro) é de se esperar uma resposta, um dia. um palavrão, até, talvez?

São como as paixões as palavras. Se controlarmos, deixam de ser o que são. Paixões viram um sentimento qualquer, mais calmo e seguro talvez, mas não mais paixões.
Palvras até viram verbetes aqui e ali, se deixam prender, organizar, listar...
mas verbetes não são palavras...
E palavras, não são verbetes, são paixões.


;)

Thiago Cavalcante disse...

"Palavras me aguardam o tempo exato pra falar... coisas minhas."