- Eu lembro do momento em que eu saí do ventre da minha mãe.
- Sério? Tá de sacanagem!
- Sério. Todo mundo tem esse registro, só que ninguém puxa. Eu puxei essa memória na terapia.
- Então tá.
- Então ta? É só isso que você tem pra me falar? Cara, qualquer outra pessoa me chamaria de louca por conta disso! Onde já se viu se lembrar do momento do parto? Você é doida mesmo...
Gargalhadas.
"São 3 horas da manhã, você me chama pra falar coisas que só a gente entende. E com seu papo poesia me transcende..."
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Enfim, sós!
Dia desses fui almoçar em um horário desses que ninguém almoça. Assim, sem um lugar definido, companhia escolhida e muito menos com um desejo gastronômico específico a ser saciado. Apenas com um livro na bolsa.
E foi dessa maneira que parei em um pub bem vazio. Aliás, o que não estava vazio naquela altura do campeonato? Tudo já estava na ressaca do “momento meio-dia”, sabe? E eu indo almoçar! Pois bem...
“Boa tarde! Mesa para uma pessoa só?”. Foi o que a mulher falou na entrada. Só que falou tão baixinho que eu a fiz repetir essa frase umas cinco vezes até entender a pergunta. Baixinho mesmo! Quase sussurrando. Se bobear, estava com vergonha de dizer: “É isso mesmo? Sozinha? Credo!”. Afinal, o que não faltam por aí são pessoas com problemas sérios em praticar esse ritual no [alone mode]. E que acham a coisa mais estranha alguém conseguir fazer isso. Vai ver ela era uma delas. “Ai, mais uma solitária nessa vida...”, suspiro. Esse seria o pensamento daquela moça de pouca voz. Ah sim, seguido de um suspiro. Esses discursos sempre terminam assim.
“Isso! É pra uma pessoa só!”. Ah, e o meu livro também, conta? Pensei com um tom de revolta, mas achei melhor não entrar nessa questão. Preferi segui-la bar adentro, conforme havia me pedido. Enfim várias mesas vazias e ela passando batido por todas! Detalhe: pub vazio e mesas, de no mínimo, quatro lugares. Por que ela não parava? Eu só pensava: “Ela está querendo me esconder???” . Pensei na hora e ainda acho que foi isso! Sério, se eu não tivesse dito “Pare!”, acho que ela tinha me carregado pra comer na cozinha! Isso que dá acompanhar uma mulher que fala pra dentro.
Ok, fim da agonia da escolha do lugar, sentei e até que fui atendida rapidamente. Fiquei lá: eu, o livro, e o queijo que veio em seguida em cima da batata. Estava, realmente, tudo muito bom. A única “preocupação” era dividir a atenção entre o livro e a comida. Bobagem pura... Coisa pequena diante de um momento só meu! Já estava feliz da vida, quieta ali e esquecida do mundo.
E não era só eu que estava assim! Em paralelo um casal vivia o momento deles, na mesa do lado. Um de frente para o outro sem dizer nada. Sorrisos e olhares, mais risos e olhares... Típico início de romance. Olhares... Até que um garçom começa: “Mais um Alexander?”. “ Não, obrigado, senão vou ser carregado pra casa”, corta o homem brincando. Coitado, mal sabia ele que o futuro era negro após esse comentário. O garçom disparou a falar sobre beber, dirigir, táxi, leis, o que é permitido, o que não é permitido... E isso durou um bom tempo! O casal mudo tentando sustentar os olhares e o garçom falante.
Resultado: os dois decidiram ir embora, me deixando sozinha com o tal do garçom participativo. Desespero. “Agora o carente vem atrás de mim!”. Tratei então de olhar fixamente para o livro, quase escondendo meu rosto entre as páginas, para não dar nem assunto. E por um segundo até achei que ele ia à minha mesa. Olhou, pensou no que poderia falar (tenho certeza), mas acabou desistindo. Vi o pé dando meia volta e fique tranqüila. Ganhei! E pude acabar o capítulo em paz. Eu, o livro e o queijo.
Vou te dizer... Povo “empata f...” esse do pub... Agora, só volto lá acompanhada!
E foi dessa maneira que parei em um pub bem vazio. Aliás, o que não estava vazio naquela altura do campeonato? Tudo já estava na ressaca do “momento meio-dia”, sabe? E eu indo almoçar! Pois bem...
“Boa tarde! Mesa para uma pessoa só?”. Foi o que a mulher falou na entrada. Só que falou tão baixinho que eu a fiz repetir essa frase umas cinco vezes até entender a pergunta. Baixinho mesmo! Quase sussurrando. Se bobear, estava com vergonha de dizer: “É isso mesmo? Sozinha? Credo!”. Afinal, o que não faltam por aí são pessoas com problemas sérios em praticar esse ritual no [alone mode]. E que acham a coisa mais estranha alguém conseguir fazer isso. Vai ver ela era uma delas. “Ai, mais uma solitária nessa vida...”, suspiro. Esse seria o pensamento daquela moça de pouca voz. Ah sim, seguido de um suspiro. Esses discursos sempre terminam assim.
“Isso! É pra uma pessoa só!”. Ah, e o meu livro também, conta? Pensei com um tom de revolta, mas achei melhor não entrar nessa questão. Preferi segui-la bar adentro, conforme havia me pedido. Enfim várias mesas vazias e ela passando batido por todas! Detalhe: pub vazio e mesas, de no mínimo, quatro lugares. Por que ela não parava? Eu só pensava: “Ela está querendo me esconder???” . Pensei na hora e ainda acho que foi isso! Sério, se eu não tivesse dito “Pare!”, acho que ela tinha me carregado pra comer na cozinha! Isso que dá acompanhar uma mulher que fala pra dentro.
Ok, fim da agonia da escolha do lugar, sentei e até que fui atendida rapidamente. Fiquei lá: eu, o livro, e o queijo que veio em seguida em cima da batata. Estava, realmente, tudo muito bom. A única “preocupação” era dividir a atenção entre o livro e a comida. Bobagem pura... Coisa pequena diante de um momento só meu! Já estava feliz da vida, quieta ali e esquecida do mundo.
E não era só eu que estava assim! Em paralelo um casal vivia o momento deles, na mesa do lado. Um de frente para o outro sem dizer nada. Sorrisos e olhares, mais risos e olhares... Típico início de romance. Olhares... Até que um garçom começa: “Mais um Alexander?”. “ Não, obrigado, senão vou ser carregado pra casa”, corta o homem brincando. Coitado, mal sabia ele que o futuro era negro após esse comentário. O garçom disparou a falar sobre beber, dirigir, táxi, leis, o que é permitido, o que não é permitido... E isso durou um bom tempo! O casal mudo tentando sustentar os olhares e o garçom falante.
Resultado: os dois decidiram ir embora, me deixando sozinha com o tal do garçom participativo. Desespero. “Agora o carente vem atrás de mim!”. Tratei então de olhar fixamente para o livro, quase escondendo meu rosto entre as páginas, para não dar nem assunto. E por um segundo até achei que ele ia à minha mesa. Olhou, pensou no que poderia falar (tenho certeza), mas acabou desistindo. Vi o pé dando meia volta e fique tranqüila. Ganhei! E pude acabar o capítulo em paz. Eu, o livro e o queijo.
Vou te dizer... Povo “empata f...” esse do pub... Agora, só volto lá acompanhada!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
[Sob Controle]
Pshhiiiu... Não faça muito barulho quando estiver lendo esse texto. As palavras estão sob efeito de hipnose e não devem ser acordadas. Depois de um bom tempo consegui colocá-las, praticamente, passíveis ao meu comando. Por favor, não atrapalhe.
Tá achando que eu estou brincando?? Nada... Elas andam fora do meu controle! Não reparou que andei sumida desse blog? Então... Elas tomaram vida própria! Quer dizer, vida sempre tiveram. E como! A diferença é que agora elas saem quando bem entendem e pronto acabou. Sendo assim, resolveram largar crônicas, papel ou computador. O foco delas passou a ser outro: as pessoas. Dessas que andam, se movimentam e também falam! Aff... Esse mundo está muito moderno mesmo. Onde já se viu? Palavras que escolhem seus momentos... Só me faltava essa!
E essa mudança toda foi assim, do dia para a noite. Sem aviso prévio ou recado deixado em algum post-it. Quando eu dei conta, lá estavam elas... fora da minha boca! E eu com cara de tacho! Sem nem poder recolhê-las! Porque tem isso, né... Palavras se espaaaaaaaaaalham. Como moedinhas que caem rolando pelo chão, sumindo em tudo quanto é buraco. Elas vão. É a única certeza. Agora, até aonde? Nunca se sabe... Vão rolando, rolando... Fazem e acontecem pelas ruas! E às vezes se escondem em cantinhos tão estranhos e inusitados que acabam se perdendo no escuro. Ou no silêncio. Danadas essas palavras...
E nem adiante eu brigar muito. Palavras não escutam. Apenas saem. Eu é que me vire com as conseqüências depois! Já cheguei até ao ponto de colocar meu coração para ter um papo cabeça com o raciocínio. Simples esperança deles controlarem as fugitivas. Doce ilusão... Elas andam tão rebeldes e determinadas que não duvido nada de estarem armando, inclusive, um motim. Meu eu amordaçado sendo jogado ao mar. Imensidão.
Agora, o pior é que eu ainda consigo entender... Elas passaram a ter desejo de realidade. Palavras em busca de liberdade e autonomia de ser, ao invés do significado. Nada de posses ou prisões... Elas só querem abraçar o mundo, independente de suas linhas tortas! Passear, sem ter que dar satisfação ou se sentirem pesadas com responsabilidades. Brincar de subir em vírgulas, descer em espaços e dar volta em interrogações sem causar furos nas páginas. Sem repressões. Jovens...
Ah, minhas palavras... Tão novas e ansiosas... Fazem barulho apenas pela vontade de serem leves. Palavras que pretendem ser as próprias palavras. Só isso.
Ih! Caramba! Acor
m
.
Tá achando que eu estou brincando?? Nada... Elas andam fora do meu controle! Não reparou que andei sumida desse blog? Então... Elas tomaram vida própria! Quer dizer, vida sempre tiveram. E como! A diferença é que agora elas saem quando bem entendem e pronto acabou. Sendo assim, resolveram largar crônicas, papel ou computador. O foco delas passou a ser outro: as pessoas. Dessas que andam, se movimentam e também falam! Aff... Esse mundo está muito moderno mesmo. Onde já se viu? Palavras que escolhem seus momentos... Só me faltava essa!
E essa mudança toda foi assim, do dia para a noite. Sem aviso prévio ou recado deixado em algum post-it. Quando eu dei conta, lá estavam elas... fora da minha boca! E eu com cara de tacho! Sem nem poder recolhê-las! Porque tem isso, né... Palavras se espaaaaaaaaaalham. Como moedinhas que caem rolando pelo chão, sumindo em tudo quanto é buraco. Elas vão. É a única certeza. Agora, até aonde? Nunca se sabe... Vão rolando, rolando... Fazem e acontecem pelas ruas! E às vezes se escondem em cantinhos tão estranhos e inusitados que acabam se perdendo no escuro. Ou no silêncio. Danadas essas palavras...
E nem adiante eu brigar muito. Palavras não escutam. Apenas saem. Eu é que me vire com as conseqüências depois! Já cheguei até ao ponto de colocar meu coração para ter um papo cabeça com o raciocínio. Simples esperança deles controlarem as fugitivas. Doce ilusão... Elas andam tão rebeldes e determinadas que não duvido nada de estarem armando, inclusive, um motim. Meu eu amordaçado sendo jogado ao mar. Imensidão.
Agora, o pior é que eu ainda consigo entender... Elas passaram a ter desejo de realidade. Palavras em busca de liberdade e autonomia de ser, ao invés do significado. Nada de posses ou prisões... Elas só querem abraçar o mundo, independente de suas linhas tortas! Passear, sem ter que dar satisfação ou se sentirem pesadas com responsabilidades. Brincar de subir em vírgulas, descer em espaços e dar volta em interrogações sem causar furos nas páginas. Sem repressões. Jovens...
Ah, minhas palavras... Tão novas e ansiosas... Fazem barulho apenas pela vontade de serem leves. Palavras que pretendem ser as próprias palavras. Só isso.
Ih! Caramba! Acor
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sexta-feira, 13 de junho de 2008
Santo Antônio
Casal voltando pra casa e o homem puxa assunto:
- Amanhã, a gente tem que pegar o pão de Santo Antônio, hein?
- Ah, vc acha?
- Olha, antes da gente casar a gente foi lá e pegou o pão, não lembra?
- Eu estrangulei o santo isso sim! Enquanto a gente não casasse, eu não iria aliviar a parte dele.
- Então! Juntamos o pão com farinha ainda! E cá estamos nós, juntos!
- É verdade! Ok, a gente pega o pão, mas dessa vez eu não vou estrangular ele.
- Tudo bem, acho que ele não vai ligar em não ser estrangulado dessa vez...
No caminho para casa, eles ainda passam pela porta de uma igreja. No chão, tinha um Santo Antônio sem cabeça. Uma outra terrorista romântica parece ter passado por ali. Santo sofre...
- Amanhã, a gente tem que pegar o pão de Santo Antônio, hein?
- Ah, vc acha?
- Olha, antes da gente casar a gente foi lá e pegou o pão, não lembra?
- Eu estrangulei o santo isso sim! Enquanto a gente não casasse, eu não iria aliviar a parte dele.
- Então! Juntamos o pão com farinha ainda! E cá estamos nós, juntos!
- É verdade! Ok, a gente pega o pão, mas dessa vez eu não vou estrangular ele.
- Tudo bem, acho que ele não vai ligar em não ser estrangulado dessa vez...
No caminho para casa, eles ainda passam pela porta de uma igreja. No chão, tinha um Santo Antônio sem cabeça. Uma outra terrorista romântica parece ter passado por ali. Santo sofre...
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Pontos de distração
Eu tinha que esperar uma pessoa e, por incrível que pareça, neste dia eu estava adiantada. Tudo bem que eu estava acompanhada da minha madrinha, o que pode ter contribuído para eu chegar antes da hora. Detalhe... O que importa mesmo é que eu não tinha nada para fazer a não ser sentar no banco da Uruguaiana e esperar. Para quem não conhece o Rio de Janeiro, eu estou falando de uma das ruas mais movimentadas do centro da cidade. E bota movimentada nisso! Ok, o centro costuma ser assim, mas eu acredito que a Uruguaiana se supera. Ou melhor, as pessoas se superam...
Foi à conclusão que eu cheguei logo assim que uma mulher, com um cartaz sobre gravatas em seu corpo se aproximou dela e disparou: “Toma esse papel pra você aprender a dar nó de gravata! É, eu sei... Eu não devia abordar as pessoas, mas você estava olhando tanto pra lá que eu resolvi vir aqui. Eu senti que você quer aprender sobre gravatas! Olha, aqui tem todas as instruções! Depois você passa lá na loja pra comprar uma e treinar!”. E na empolgação até eu ganhei o papel com os nós passo a passo. Hã! Gravata??
Em seguida, dei de cara com uma criança em cima da minha perna. Ela era tão pequenininha que poderia passar debaixo das minhas pernas despercebida. “Pois bem”, pensei comigo, “ela vai pedir dinheiro para a mãe que está em algum lugar perto daqui”. E já estava me revoltando com essa situação quando ela tirou a mão de trás das costas: “Toma!”. “Hein? O que é isso?”. “Um papel pra você”. Na folha: “Cristina Paz – jogo búzios, tarô e runas. Resolvo os seus problemas”. Ah, sim, Cristina Paz devia ser a mãe dela. “Ah, você quer me dar o papel”. Ela então sorri e sai de perto. Quando observo, vejo que ela sai pegando mais papéis daquele pelo chão. Ah tá, agora sim, foi apenas um lixo de presente... E o dia prossegue.
Policias passam, morrendo de rir. Estão tranqüilos e parecem passear, não trabalhar. Cada um deles com pedaços de plástico bem finos e azuis dentro dos bolsos das calças. Algemas de plástico? Na verdade, parecia mais aquelas pulseirinhas VIPs de festas, sabe?
Uma mulher com uma bolsa enorme em formato de peixe colorido sobe a rua. Está com pressa e o peixe coitado, balança como se estivesse em um mar revolto.
Um cara abre sua barraquinha do Santo Expedito. Na frente, um cartaz gigantesco com a foto dele com cara de sério e a imagem do santo. Do lado de fora, a própria imagem. Maior do que eu.
Ali, vende orações, livrinhos e a mensagem do Santo. Seria pagamento de promessa? Eu hein, foi-se o tempo em que as pessoas apenas subiam as escadas de uma igreja...
Um rapaz passa e entrega um papel: “Cristina Paz – jogo búzios, tarô e runas. Resolvo os seus problemas”. Ai, ai, ai, tem gente querendo resolver MESMO os meus problemas. Até que seria interessante, né? Você paga uma pessoa e a vida fica bela! Será que ela tem os números da Sena? Comecei a pensar melhor sobre o assunto...
Um homem com o cartaz no corpo “Vendo Ouro” desce a rua conversando com o amigo que anda com o cartaz “Desbloqueio celulares”. Estavam falando sobre uma garota bonita que conheceram no bar, na noite passada.
Os policiais voltam. No maior papo-furado e cheio de sacolas! Comida, bebida... Eu ainda acho que eles estão indo para alguma festa... Vai ver, nem são policiais e estão indo para uma festa à fantasia. Ei! Mas ainda nem era meio-dia!
Um “Sombra” passa atrás de duas meninas, que nem deram conta de que estavam sendo seguidas. E melhor: imitadas! Sombra, aquele tipo de artista que pinta a cara de branco e sai repetindo os gestos das pessoas, conhece?
Uma mulher passa e me entrega um papel: “Cristina Paz – jogo búzios, tarô e runas. Resolvo os seus problemas”. Caraca! Será que era a própria? Vou te dizer, a dona tá comandando a região...
Um homem vendendo bichos de pelúcias muito, mas muito grandes, passa. Um urso com o olho meio torto e um cachorro coma língua de fora. Pareciam estar cansados. Já o homem estava animadão andando pra cima e pra baixo, segurando os animais. Isso vende? Por um segundo eu resisto à tentação de fazer essa pergunta.
Índios tocam flautas. Até aí normal. O pulo do gato, ou quer dizer, do pajé, é que eles estavam vestidos com adereços de carnaval da Sapucaí! De esplendor e tudo!!Genial.
Era tanta gente ganhando dinheiro de uma maneira inesperada que eu resolvi escrever. Não que eu fosse escrever cartas em troca de moedas, como a Fernanda Montenegro em A Central do Brasil. Não, não... Era só um recurso para eu não esquecer daquelas pessoas. Então abaixei a cabeça e me concentrei na folha. Nisso, a minha madrinha começou: “Vamos dar um volta?”. “Já vou”. Estava muito entretida para parar. “Vaneeeessa...”. “Já vou!”. Passa dois minutos: “Vaneeeessa, vamos sair daqui, hein? Hein?”. Nisso, eu comecei a sentir um tom meio apreensivo dela, que agora falava muito baixo. Estranho... Resolvi então levantar a cabeça pra ver o que ela queria. Tchanam!!! Ao meu redor muita gente!! A maioria homens!! “Ow! De onde surgiu esse povo?”. E ao olhar em volta, vejo um homem com um quadro no meio da rua. Escrevia números, tinha uma viseira e usava um microfone. Falava algo como raiz quadrada, soma aqui, tira esse resultado... Sério... O cara estava dando aula de matemática!!! Com direto a responder pergunta e tudo! Incrível. Por alguns minutos até me interessei em descobrir o valor de X de uma questão. No entanto, o fato de estar no meio da roda me fez seguir os conselhos da minha madrinha e sair dali.
Foi quando encontro a pessoa que estávamos esperando. “Vanessa, aonde você estava! Já tinha rodado isso tudo atrás de vocês!”. É... Era uma longa história... Resolvi deixar pra contar depois. Melhor...
E os dias se passaram. Até que um dia, minha madrinha acha na bolsa o papel da Dona Cristina e faz a seguinte observação: “Viu onde era a rua onde ela ficava?”. “Não”. “Adivinha! Rua Visconde do Rio Branco”. "Putz! Tá de zoação?", foi a única coisa que eu consegui responder. Afinal, é o nome da cidade de Minas Gerais onde eu nasci! Meu Deus! Cristina Paz, Visconde do Rio Branco, todos os papéis parando na minha mão... E foi aí que eu percebi tudo... Estava ali na minha cara o tempo todo... Era um sinal! Eu sabia... E se bobear, todas as pessoas da Uruguaiana sabiam! Eu deveria ter ido na Cristina Paz... Ô distração...
**********************************************************************
Ps: Esse texto foi uma resposta à crônica de uma amiga: Fernanda Martins. Para quem se interessar em ler: http://poroutrolado.wordpress.com/.
Foi à conclusão que eu cheguei logo assim que uma mulher, com um cartaz sobre gravatas em seu corpo se aproximou dela e disparou: “Toma esse papel pra você aprender a dar nó de gravata! É, eu sei... Eu não devia abordar as pessoas, mas você estava olhando tanto pra lá que eu resolvi vir aqui. Eu senti que você quer aprender sobre gravatas! Olha, aqui tem todas as instruções! Depois você passa lá na loja pra comprar uma e treinar!”. E na empolgação até eu ganhei o papel com os nós passo a passo. Hã! Gravata??
Em seguida, dei de cara com uma criança em cima da minha perna. Ela era tão pequenininha que poderia passar debaixo das minhas pernas despercebida. “Pois bem”, pensei comigo, “ela vai pedir dinheiro para a mãe que está em algum lugar perto daqui”. E já estava me revoltando com essa situação quando ela tirou a mão de trás das costas: “Toma!”. “Hein? O que é isso?”. “Um papel pra você”. Na folha: “Cristina Paz – jogo búzios, tarô e runas. Resolvo os seus problemas”. Ah, sim, Cristina Paz devia ser a mãe dela. “Ah, você quer me dar o papel”. Ela então sorri e sai de perto. Quando observo, vejo que ela sai pegando mais papéis daquele pelo chão. Ah tá, agora sim, foi apenas um lixo de presente... E o dia prossegue.
Policias passam, morrendo de rir. Estão tranqüilos e parecem passear, não trabalhar. Cada um deles com pedaços de plástico bem finos e azuis dentro dos bolsos das calças. Algemas de plástico? Na verdade, parecia mais aquelas pulseirinhas VIPs de festas, sabe?
Uma mulher com uma bolsa enorme em formato de peixe colorido sobe a rua. Está com pressa e o peixe coitado, balança como se estivesse em um mar revolto.
Um cara abre sua barraquinha do Santo Expedito. Na frente, um cartaz gigantesco com a foto dele com cara de sério e a imagem do santo. Do lado de fora, a própria imagem. Maior do que eu.
Ali, vende orações, livrinhos e a mensagem do Santo. Seria pagamento de promessa? Eu hein, foi-se o tempo em que as pessoas apenas subiam as escadas de uma igreja...
Um rapaz passa e entrega um papel: “Cristina Paz – jogo búzios, tarô e runas. Resolvo os seus problemas”. Ai, ai, ai, tem gente querendo resolver MESMO os meus problemas. Até que seria interessante, né? Você paga uma pessoa e a vida fica bela! Será que ela tem os números da Sena? Comecei a pensar melhor sobre o assunto...
Um homem com o cartaz no corpo “Vendo Ouro” desce a rua conversando com o amigo que anda com o cartaz “Desbloqueio celulares”. Estavam falando sobre uma garota bonita que conheceram no bar, na noite passada.
Os policiais voltam. No maior papo-furado e cheio de sacolas! Comida, bebida... Eu ainda acho que eles estão indo para alguma festa... Vai ver, nem são policiais e estão indo para uma festa à fantasia. Ei! Mas ainda nem era meio-dia!
Um “Sombra” passa atrás de duas meninas, que nem deram conta de que estavam sendo seguidas. E melhor: imitadas! Sombra, aquele tipo de artista que pinta a cara de branco e sai repetindo os gestos das pessoas, conhece?
Uma mulher passa e me entrega um papel: “Cristina Paz – jogo búzios, tarô e runas. Resolvo os seus problemas”. Caraca! Será que era a própria? Vou te dizer, a dona tá comandando a região...
Um homem vendendo bichos de pelúcias muito, mas muito grandes, passa. Um urso com o olho meio torto e um cachorro coma língua de fora. Pareciam estar cansados. Já o homem estava animadão andando pra cima e pra baixo, segurando os animais. Isso vende? Por um segundo eu resisto à tentação de fazer essa pergunta.
Índios tocam flautas. Até aí normal. O pulo do gato, ou quer dizer, do pajé, é que eles estavam vestidos com adereços de carnaval da Sapucaí! De esplendor e tudo!!Genial.
Era tanta gente ganhando dinheiro de uma maneira inesperada que eu resolvi escrever. Não que eu fosse escrever cartas em troca de moedas, como a Fernanda Montenegro em A Central do Brasil. Não, não... Era só um recurso para eu não esquecer daquelas pessoas. Então abaixei a cabeça e me concentrei na folha. Nisso, a minha madrinha começou: “Vamos dar um volta?”. “Já vou”. Estava muito entretida para parar. “Vaneeeessa...”. “Já vou!”. Passa dois minutos: “Vaneeeessa, vamos sair daqui, hein? Hein?”. Nisso, eu comecei a sentir um tom meio apreensivo dela, que agora falava muito baixo. Estranho... Resolvi então levantar a cabeça pra ver o que ela queria. Tchanam!!! Ao meu redor muita gente!! A maioria homens!! “Ow! De onde surgiu esse povo?”. E ao olhar em volta, vejo um homem com um quadro no meio da rua. Escrevia números, tinha uma viseira e usava um microfone. Falava algo como raiz quadrada, soma aqui, tira esse resultado... Sério... O cara estava dando aula de matemática!!! Com direto a responder pergunta e tudo! Incrível. Por alguns minutos até me interessei em descobrir o valor de X de uma questão. No entanto, o fato de estar no meio da roda me fez seguir os conselhos da minha madrinha e sair dali.
Foi quando encontro a pessoa que estávamos esperando. “Vanessa, aonde você estava! Já tinha rodado isso tudo atrás de vocês!”. É... Era uma longa história... Resolvi deixar pra contar depois. Melhor...
E os dias se passaram. Até que um dia, minha madrinha acha na bolsa o papel da Dona Cristina e faz a seguinte observação: “Viu onde era a rua onde ela ficava?”. “Não”. “Adivinha! Rua Visconde do Rio Branco”. "Putz! Tá de zoação?", foi a única coisa que eu consegui responder. Afinal, é o nome da cidade de Minas Gerais onde eu nasci! Meu Deus! Cristina Paz, Visconde do Rio Branco, todos os papéis parando na minha mão... E foi aí que eu percebi tudo... Estava ali na minha cara o tempo todo... Era um sinal! Eu sabia... E se bobear, todas as pessoas da Uruguaiana sabiam! Eu deveria ter ido na Cristina Paz... Ô distração...
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Ps: Esse texto foi uma resposta à crônica de uma amiga: Fernanda Martins. Para quem se interessar em ler: http://poroutrolado.wordpress.com/.
terça-feira, 8 de abril de 2008
A verdade
Outro dia estava voltando para casa, de ônibus. Estava tranqüila, tomando vento na cara, admirando a paisagem, pensando na vida, enfim, curtindo aquele momento no transporte público. Algo possível de ser feito apenas porque era domingo! Lógico, não estava nos horários de rush – indo para a praia/ voltando para a praia ou indo para o Maracanã/ voltando para o Maracanã. Bom, voltando ao caso: estava eu lá, na boa, quando de repente vejo um cartaz de festival de sorvete! Caramba! Não que algo estivesse errado com isso. Quer dizer, até havia, pois eu não ia estar no Rio de Janeiro na tal data. Mas não foi esse o motivo do meu susto. O problema era o endereço do lugar do festival! Escrito em letras garrafais: RUA MARIZ E BARROS. Acredita?
Putz! Meu mundo caiu! Tá, está se perguntando se eu endoidei! Tipo, o que tem de errado com o nome de uma das principais ruas da Tijuca? Pois bem... Explico: Eu sempre achei que aquela rua era da Dona Marise! E note: Marise com “s”!! Não conhece ela? Nem eu! E nem por isso deixava de respeitar essa senhora tão famosa a ponto de virar o nome de uma rua! Meu Deus... Que choque gramatical! A vida inteira eu não só indiquei a rua da Dona Marise para as outras pessoas, como também passei por lá diversas vezes (devia estar sempre com os olhos fechados, né? Fico pensando nisso agora).
E aí, do nada, descubro que aquela verdade era somente uma criação da minha cabeça. Já passou por isso? Descobrir do dia pra noite que aquilo, que sempre foi real pra você, era uma invenção? Sensação horrível, vai por mim. No mínimo, você deve ter passado por isso quando descobriu que o Papai Noel era seu tio fantasiado de vermelho com algodão na cara.
Pôxa, fiquei um pouco frustrada com a Dona Marise... Até conseguia imaginar as feições dela! Meio gordinha, rosto redondo, de óculos, sorriso estampado na cara... Engraçado, pensando friamente, parece até com uma Marise que eu conheço... Será que essa rua era dela? Caceta! É Mariz!!!! Tenho que me acostumar com essa idéia... Mas afinal, o que é Mariz, não? Coisinha esquisita... Antes fosse Marise mesmo...
É... É isso que dá: o povo não fala direito e eu é quem faço a confusão! Está lá escrito “Eva e Adão”, e nego lê “É veadão!”. Ou então ao invés de dizer que aquele é um homem de pouca fé, fala que ele vai “pôr café”. E a “vez passada”? Vira uma “vespa assada”, fácil, fácil! Eca... Nem vem... Não estou precisando limpar os ouvidos ou comprar um aparelho de audição. As pessoas falam rápido e, no final das contas, criam uma segunda língua! Dão origem aos chamados cacófatos! Taí... A razão de tudo: idioma! Só não vê quem não quer! A culpa dessa situação é do Português! Ora, ora... Esse seu Manuel...
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Anunciante
Há um tempo atrás mantive um hábito de abrir o jornal, diariamente, na esperança de encontrar nas páginas dos classificados o seguinte anúncio: "Vendo tempo". E nem precisava ser muito, não! Algo por volta de 2h, 3h por dia já iria adiantar muito o meu lado. Dormir melhor talvez se tornasse possível. Sim, sim, sim... As olheiras não são apenas fruto da genética. Eu contribuo muito com essa minha rotina louca. Mas enfim... Nada! Fiquei no vácuo todas às vezes que procurei. E olha que eu nem tinha muita pretensão nessa minha busca. Lógico, a madrugada seria o ideal para eu fazer as minhas coisas. No entanto, devido à urgência da necessidade, até tempo sobrando na parte da manhã estaria servindo! E nada...
Depois passei um período com outra tática: a de anunciar! Coloquei lá no alto da página, em letras garrafais: "Compro tempo". Putz... Aí a situação mudou! Você não tem noção do bando de gente à toa que me deu retorno! Meu celular era mais requisitado do que telefone de parteira. (Aliás, ainda se usa parteira?). Dia e noite me ligavam fazendo ofertas de todos os tipos! Teve gente que até queria fazer um escambo: tempo por diversão. Caramba... No final das contas, isso, ao invés de me ajudar, me atrapalhou. Eu passei mais tempo atendendo celular e vendo e-mail de à toa do que resolvendo a minha vida.
Ah não... Desisti de abrir o jornal em busca de tempo. Sem condições!
Resolvi tirar férias.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Reencontro
Ela se faz em um sorriso. Era tudo o que ele queria naquele momento...
- Estava com saudades desse sorriso...
- Não tenho culpa se você some...
- E se você é cara-de-pau, né? Eu não sumi, você é que voou pra longe.
- É, pode ser... Mas acho essa distância foi necessária pra mim.
- Às vezes eu me via lembrando de como a sua gargalhada me fazia bem. Em alguns momentos até sem razão de ser, mas exata para a minha tristeza. Sabe, você me passava um pouco dessa alegria e eu podia jurar que do seu lado tudo iria dar certo.
- Não dá pra levar a vida tão a sério... A leveza deixa as coisas melhores.
- Mas A GENTE você levou a sério.
- VOCÊ era importante pra mim.
- Era?
E um breve sorriso, nada parecido com o primeiro se fez no rosto dela... E, mesmo sem palavras, ele já sabia o que aquilo significava. Preferiu então mudar de assunto...
- Você tá diferente...
- E você não mudou nada...
- Nem um pouco?
- Talvez a barba... Esconde como você ainda é menino, apesar do tempo.
- Eu tento, eu tento...
- O pior é que tem gente que acredita, diz ela brincando.
- Aos montes! Você tem que ver!
E os dois riem, juntos, daquela verdade em forma de piada. Até o silêncio chegar...
Na verdade, ele estava gostando daquela ausência de palavras. E quieto, se perde olhando as mãos dela. Como estavam bonitas... Cheia dos anéis, com os dedos se mexendo, insistentemente, como se um fosse estalar o outro. Essa mania ele conhecia bem... Pensou em repreendê-la como sempre fez, mas depois desistiu quando ela mexeu no cabelo. Ela estava, especialmente, linda ali no carro... "Como eu demorei tanto a perceber isso...". Tantos abraços, tantas histórias, tantos beijos em seu pensamento. É, realmente, ela fazia bem à sua alma... Já dava até para se sentir mais leve... Acabou não resistindo em perguntar:
- E hoje? Você fica?
Seus olhos têm esperança de que ela diga que sim. Já seus sonhos esperam que ela responda: "Com você? Fico aqui para o resto da vida...".
Por outro lado, ela faz um olhar distante, suspira, morde os lábios... Não está em busca das melhores palavras. Não com ele. Nunca precisou disso. Ele a entendia mesmo quando não dizia nada. Ela só estava em busca da sua verdadeira vontade, que ela nem sabia por onde andava àquela hora da madrugada...
E a saudade veio forte, a envolveu naqueles instantes de espera. Abraçou apertaaaado seu coração, como se não fosse largar nunca... E só conseguiu ter como resposta:
- Vou ficar até o sol nascer...
No fundo, ele já sabia... Mas ainda resiste, insiste e se nega a aceitar:
- E amanhã?
Ela ri e sorrindo, diferente daquele primeiro sorriso, coloca as mãos em cima das mãos dele, que estavam quentes, como sempre, e só consegue dizer:
- Amanhã já é um novo dia...
- Estava com saudades desse sorriso...
- Não tenho culpa se você some...
- E se você é cara-de-pau, né? Eu não sumi, você é que voou pra longe.
- É, pode ser... Mas acho essa distância foi necessária pra mim.
- Às vezes eu me via lembrando de como a sua gargalhada me fazia bem. Em alguns momentos até sem razão de ser, mas exata para a minha tristeza. Sabe, você me passava um pouco dessa alegria e eu podia jurar que do seu lado tudo iria dar certo.
- Não dá pra levar a vida tão a sério... A leveza deixa as coisas melhores.
- Mas A GENTE você levou a sério.
- VOCÊ era importante pra mim.
- Era?
E um breve sorriso, nada parecido com o primeiro se fez no rosto dela... E, mesmo sem palavras, ele já sabia o que aquilo significava. Preferiu então mudar de assunto...
- Você tá diferente...
- E você não mudou nada...
- Nem um pouco?
- Talvez a barba... Esconde como você ainda é menino, apesar do tempo.
- Eu tento, eu tento...
- O pior é que tem gente que acredita, diz ela brincando.
- Aos montes! Você tem que ver!
E os dois riem, juntos, daquela verdade em forma de piada. Até o silêncio chegar...
Na verdade, ele estava gostando daquela ausência de palavras. E quieto, se perde olhando as mãos dela. Como estavam bonitas... Cheia dos anéis, com os dedos se mexendo, insistentemente, como se um fosse estalar o outro. Essa mania ele conhecia bem... Pensou em repreendê-la como sempre fez, mas depois desistiu quando ela mexeu no cabelo. Ela estava, especialmente, linda ali no carro... "Como eu demorei tanto a perceber isso...". Tantos abraços, tantas histórias, tantos beijos em seu pensamento. É, realmente, ela fazia bem à sua alma... Já dava até para se sentir mais leve... Acabou não resistindo em perguntar:
- E hoje? Você fica?
Seus olhos têm esperança de que ela diga que sim. Já seus sonhos esperam que ela responda: "Com você? Fico aqui para o resto da vida...".
Por outro lado, ela faz um olhar distante, suspira, morde os lábios... Não está em busca das melhores palavras. Não com ele. Nunca precisou disso. Ele a entendia mesmo quando não dizia nada. Ela só estava em busca da sua verdadeira vontade, que ela nem sabia por onde andava àquela hora da madrugada...
E a saudade veio forte, a envolveu naqueles instantes de espera. Abraçou apertaaaado seu coração, como se não fosse largar nunca... E só conseguiu ter como resposta:
- Vou ficar até o sol nascer...
No fundo, ele já sabia... Mas ainda resiste, insiste e se nega a aceitar:
- E amanhã?
Ela ri e sorrindo, diferente daquele primeiro sorriso, coloca as mãos em cima das mãos dele, que estavam quentes, como sempre, e só consegue dizer:
- Amanhã já é um novo dia...
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
E Por Falar Em João...
Seu João foi um pensador que conheci em Tiradentes. Isto graças ao meu hotel ser um pouco mais longe da rodoviária, onde estava acontecendo o Festival de Cinema. Longe, longe até que não era, mas passava por uma estrada sem luz, e voltar à noite andando por ali não era exatamente uma boa. Aquele papo de sempre de que o seguro morreu de velho... Blá, blá, blá... Isso não é o mais importante. O ponto que se deve considerar é que todos os caminhos me levaram a conhecer Seu João. Um pensador que percorre as ruas com seu carro amarelo e espalha conhecimento por onde passa. Figura ilustríssima da cidade mineira.
Seu João foi o cara que apareceu em todo momento que eu precisei. Com toda empolgação e papo dignos de um mineiro. Não tinha problema com hora ou distância! Dormir? Pra quê? ”A vida é muito boa pra eu dormir. Qualquer coisa, pode me ligar”, ele me garantiu uma vez. E eu ligava! Muitas e muitas vezes. De modo que cheguei a conversar com todos de sua casa! É... Ele tinha secretários para facilitar seu serviço. Malandro Seu João... Falei com a mulher dele, o filho e, inclusive, com o Sr. Toninho, que eu não sei quem era, mas vale ser citado devido à simpatia ao telefone. O esquema era o seguinte: eu ligava e falava com eles, que por sua vez achavam o Seu João. E no final, ele me achava. Simples assim! Serviço de primeiro mundo! Uma beleza!
Tá... Você ainda está refletindo sobre o fato dele ter uma casa... Sim! Pensador moderno não vive sujo, pelas calçadas e vivendo de brisa. Não, não... A realidade atual é outra. O romantismo e a situação econômica do mundo também não são mais os mesmo. Ficou fácil encontrarmos, hoje em dia, pensadores à frente de um táxi, atrás do caixa de um supermercado ou na portaria. É só parar para conversar com eles um pouco e vai descobrir coisas fantásticas sobre a vida. Vide Seu João.
Se chovia? Lá estava ele com um guarda-chuva à tira colo. “Pode ficar. Agora, se por acaso ele te encher o saco jogue fora”. Desprendimento total com o mundo material! “Mas seu João, jogar fora? Ele tá inteirinho!”, eu ainda insistia. “Minha filha, se sair sol para quê você vai andar com esse troço? Vai atrapalhar seus passos e seu passeio”. Sábio Seu João, sábio...
Tão sábio e evoluído que tinha contato direto com os deuses. Até mesmo dirigindo! Uma vez, chegou a dizer, ao volante, em tom de profecia: “Vai chover tanto, mas tanto, que o casco do cavalo irá amolecer e o chifre da vaca minará água”. Bonito, não? Quase uma poesia. E não deu outra. Choveu um bocado. Puro feeling...
Enfim, esse é Seu João. Pessoa do bem. Celebridade do dia-a-dia. Tão famoso como um ator de cinema e tão cheio de histórias como um filme. E que fica ali, exatamente ali na pracinha. Perto da rodoviária, onde a maioria das pessoas acreditaram estar acontecendo o único evento cultural da cidade. Tsc tsc tsc... Mal sabem eles...
Seu João foi o cara que apareceu em todo momento que eu precisei. Com toda empolgação e papo dignos de um mineiro. Não tinha problema com hora ou distância! Dormir? Pra quê? ”A vida é muito boa pra eu dormir. Qualquer coisa, pode me ligar”, ele me garantiu uma vez. E eu ligava! Muitas e muitas vezes. De modo que cheguei a conversar com todos de sua casa! É... Ele tinha secretários para facilitar seu serviço. Malandro Seu João... Falei com a mulher dele, o filho e, inclusive, com o Sr. Toninho, que eu não sei quem era, mas vale ser citado devido à simpatia ao telefone. O esquema era o seguinte: eu ligava e falava com eles, que por sua vez achavam o Seu João. E no final, ele me achava. Simples assim! Serviço de primeiro mundo! Uma beleza!
Tá... Você ainda está refletindo sobre o fato dele ter uma casa... Sim! Pensador moderno não vive sujo, pelas calçadas e vivendo de brisa. Não, não... A realidade atual é outra. O romantismo e a situação econômica do mundo também não são mais os mesmo. Ficou fácil encontrarmos, hoje em dia, pensadores à frente de um táxi, atrás do caixa de um supermercado ou na portaria. É só parar para conversar com eles um pouco e vai descobrir coisas fantásticas sobre a vida. Vide Seu João.
Se chovia? Lá estava ele com um guarda-chuva à tira colo. “Pode ficar. Agora, se por acaso ele te encher o saco jogue fora”. Desprendimento total com o mundo material! “Mas seu João, jogar fora? Ele tá inteirinho!”, eu ainda insistia. “Minha filha, se sair sol para quê você vai andar com esse troço? Vai atrapalhar seus passos e seu passeio”. Sábio Seu João, sábio...
Tão sábio e evoluído que tinha contato direto com os deuses. Até mesmo dirigindo! Uma vez, chegou a dizer, ao volante, em tom de profecia: “Vai chover tanto, mas tanto, que o casco do cavalo irá amolecer e o chifre da vaca minará água”. Bonito, não? Quase uma poesia. E não deu outra. Choveu um bocado. Puro feeling...
Enfim, esse é Seu João. Pessoa do bem. Celebridade do dia-a-dia. Tão famoso como um ator de cinema e tão cheio de histórias como um filme. E que fica ali, exatamente ali na pracinha. Perto da rodoviária, onde a maioria das pessoas acreditaram estar acontecendo o único evento cultural da cidade. Tsc tsc tsc... Mal sabem eles...
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Foi-se a época de João...
Acabei de chegar de Tiradentes, onde está rolando a 11ª Mostra de Cinema Brasileiro (vale dizer que quem não conhece o evento, precisa conhecer). O que até justifica a ausência de novas crônicas nesse blog. Fiquei perto das telas e longe do computador. De vez em quando isso é necessário. Uma vidinha “chata”, sabe? De longas, curtas, showzinhos, chopp gelado na praça, conversa fiada e como não poderia deixar de ser... compras! Não tem como parar em uma cidade histórica dessas e sair de lá sem uma casinha ou igrejinha em miniatura. Fato! E olha que eu estou pegando leve. Dependendo da grana que você tiver no bolso ou da loucura que tiver na cabeça o gasto pode ser muuuuito mais alto.
Bom, desse lado artesanal e consumista de Tiradentes eu sempre soube. O que eu não sabia, e que acabei descobrindo nessa minha última visita à cidade, é que existe um número exagerado de Vanessas nas lojinhas, hotéis e lanchonetes! E não é brincadeira. Ainda mais nas lojas! Eu entrava e “tchan nam”! Lá estava o nome! Se não era da vendedora, era da mulher que estava comprando. Meu Deus! Que loucura foi aquela!? Cheguei até a pensar que estava tendo um encontro das Vanessas da Comunidade do Orkut , para o qual eu não fui convidada. Ou quem sabe o esquenta de bloco de carnaval “Vai Nessas”, ou qualquer coisa do tipo.
Voltava para o hotel e dava de cara com outra Vanessa. Pedia um sanduíche e quem me atendia? A Vanessa! Céus! E todas entre 25 e 35 anos. Parei, inclusive, pra pensar se existiu alguma Vanessa famosa na década de 70, início dos 80, pra ter nascido tantas Vanessas assim (quem souber de algo, por favor, me avise). E o pior: eu bem tentei descobrir o que estava acontecendo, mas todas se fizeram de boba e riram quando eu perguntava se estava rolando alguma reunião secreta. Caramba... Que maluquice... E eu que pensava que nomezinho comum era João! Que aliás, só conheci um lá! Um mísero e único João! É mole? Já Vanessa...
O único aspecto positivo é que todas às vezes que eu voltava em algum lugar a comunicação era ótima entre eu e a atendente. Afinal, não dava pra esquecer da xará, não é? Eu, por exemplo, não esqueci até agora. Ainda estou aqui pensando se existem, mesmo, muitas Vanessas em Tiradentes ou se fui eu que entrei em muitas lojas. Dúvida cruel...
Bom, desse lado artesanal e consumista de Tiradentes eu sempre soube. O que eu não sabia, e que acabei descobrindo nessa minha última visita à cidade, é que existe um número exagerado de Vanessas nas lojinhas, hotéis e lanchonetes! E não é brincadeira. Ainda mais nas lojas! Eu entrava e “tchan nam”! Lá estava o nome! Se não era da vendedora, era da mulher que estava comprando. Meu Deus! Que loucura foi aquela!? Cheguei até a pensar que estava tendo um encontro das Vanessas da Comunidade do Orkut , para o qual eu não fui convidada. Ou quem sabe o esquenta de bloco de carnaval “Vai Nessas”, ou qualquer coisa do tipo.
Voltava para o hotel e dava de cara com outra Vanessa. Pedia um sanduíche e quem me atendia? A Vanessa! Céus! E todas entre 25 e 35 anos. Parei, inclusive, pra pensar se existiu alguma Vanessa famosa na década de 70, início dos 80, pra ter nascido tantas Vanessas assim (quem souber de algo, por favor, me avise). E o pior: eu bem tentei descobrir o que estava acontecendo, mas todas se fizeram de boba e riram quando eu perguntava se estava rolando alguma reunião secreta. Caramba... Que maluquice... E eu que pensava que nomezinho comum era João! Que aliás, só conheci um lá! Um mísero e único João! É mole? Já Vanessa...
O único aspecto positivo é que todas às vezes que eu voltava em algum lugar a comunicação era ótima entre eu e a atendente. Afinal, não dava pra esquecer da xará, não é? Eu, por exemplo, não esqueci até agora. Ainda estou aqui pensando se existem, mesmo, muitas Vanessas em Tiradentes ou se fui eu que entrei em muitas lojas. Dúvida cruel...
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